A ORGANIZAÇÃO DE PORTFÓLIOS COMO
INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DA TRAJETÓRIA DE APRENDIZAGEM DAS CRIANÇAS
A
avaliação na Educação Infantil é uma das questões mais complexas para os
professores. Por esta razão tem sido tema de muitas reflexões dos especialistas
nos últimos anos. Novos conceitos foram construídos, novas práticas foram
desenvolvidas. Mas continua sendo fundamental aprofundar esse debate, pois
avaliar implica avaliar-se, rever conceitos, fazer escolhas e tomar decisões.
É
importante ressaltar que a avaliação não é um instrumento para medir o quanto a
criança aprendeu nem tampouco uma forma de julgar, reprovar ou aprovar uma
criança. A avaliação que, de fato, contribui para o crescimento da criança e
para o trabalho do professor, deve ter o caráter de mediadora e acolhedora. É
ela que possibilitará o acompanhamento da criança em todos os momentos vividos
na Educação Infantil, contribuindo com seu avanço na ampliação do conhecimento
de si e do mundo.
Acompanhar
o desenvolvimento da criança ajuda o professor a rever e aprimorar seu
trabalho. Neste sentido, avaliar a criança nos leva também a avaliar nossa
própria ação pedagógica e, inclusive, a instituição na qual estamos inseridos.
Afinal, avaliar é o movimento de pensar
tudo o que envolve nossa prática e buscar caminhos de torná-la cada vez mais
coerente e mais contextualizada.
Segundo
os autores Shores e Grace (2001), “os portfólios são definidos como uma coleção
de itens que revela, conforme o tempo passa, os diferentes aspectos do crescimento
e do desenvolvimento de cada criança”. Os portfólios são uma forma de registrar
as experiências vividas pelo grupo e pelas crianças ao longo do desenvolvimento
dos projetos de trabalho e demais atividades. Este recurso tem se mostrado
interessante porque reúne as diferentes produções das crianças durante
diferentes momentos, não só escritos, como também desenhos, fotos etc.
Vale destacar que o portfólio dá
visibilidade à produção dos alunos, contribuindo para que se sintam
valorizados, bem como permite que eles se defrontem com a trajetória vivida e
possam resgatar o que já foi construído. Enfim, constitui-se num instrumento de
troca, partilha, comunicação, memória, favorecendo a experiência de conviver e
de trocar na sala de aula. Pode, ainda, ser um interessante instrumento de
parceria com as famílias. Assim, os familiares podem tanto acompanhar o
trabalho do grupo através do que foi ali registrado e coletado quanto podem se
envolver na sua elaboração ou avaliação.
Ainda segundo Shores e Grace (2001), existem três tipos de portfólio:
Portfólio
Particular: são anotações específicas da criança, tais como históricos médicos,
ficha cumulativa, anotações específicas da criança, registros de conversas
entre os(as) professores(as) e as famílias, a Caderneta da Criança, relatos
narrativos, enfim, informações importantes que muitas vezes são confidenciais.
Portfólio
de Aprendizagem: são as anotações da criança e do(a) professor(a), as produções
das crianças, amostras de seus trabalhos, observações acerca dos projetos de
trabalho, relatos de aprendizagem, relatórios, enfim, o acervo de trabalhos
realizados pela criança.
Portfólio
Demonstrativo: são os relatórios compilados do 4º bimestre, trabalhos
significativos, relato de experiência, entre outros, onde a futura escola
poderá ter uma visão global da criança e acompanhar o seu desenvolvimento para
que possa dar continuidade ao processo de aprendizagem.
O PORTFÓLIO DE APRENDIZAGEM
COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO
Por que devemos privilegiar um acompanhamento atento das ações do aluno?
Existe
uma diferença expressiva entre um filme e uma fotografia. O primeiro é
dinâmico, se altera a cada quadro; a fotografia é estática, simbolizando o
registro de um instante. Toda avaliação é estática, pois capta o desempenho do
aluno em um momento específico; é portanto, instantânea, mas sua aprendizagem é
construtiva, possui uma dinâmica e significados que estão em permanente
ebulição e transformação. Sobretudo, com alunos mais novos, muitas vezes a aprendizagem
significativa se manifesta algum tempo depois da atividade que a suscitou.
Essas
referências são importantes para que se pense que avaliações baseadas na
captação de um instantâneo são de baixíssima confiabilidade e necessitam ser
acrescidas de outras que compreendam o dinamismo que a construção de
significados envolve. Nesse sentido, o professor deve estar atento a toda
manifestação de aprender do aluno, captando amostras expressivas de seu
desenvolvimento.
O que levar em conta ao selecionar o material para compor o portfólio
de aprendizagem?
A
avaliação brasileira sempre primou por valores máximos, e o que agora se propõe
é a construção de um sistema que possa privilegiar valores ótimos. É importante
que todos façam o melhor possível, e que o melhor possível de um possa valer
apenas em relação às suas potencialidades e não às dos demais. Avaliar por
critérios máximos, em síntese, é como colocar a corda em uma determinada altura
e solicitar que todos a saltem, ignorando a existência de expressivas
diferenças pessoais. Quando se preconiza que o professor deve construir em sala
de aula uma aprendizagem significativa é importante que saiba que esta nunca é
um “oito” ou um “oitenta”, um “tudo” ou um “nada”, mas, ao contrário, um
procedimento que alcança pessoas diferentes em níveis diferentes. Cabe, assim,
ao professor, descobrir o grau de significatividade da aprendizagem realizada
por este e por aquele aluno, oportunizando-lhes atividades que possam ser
desenvolvidas em diferentes graus e acreditar que alunos que alcançam níveis
diferentes na realização dessas tarefas podem ser iguais ao construírem o
melhor possível de (cada um) si.
“Ensinar”
algo significa variar muito e sempre os contextos em que a aprendizagem é
realizada para que os significados que o aluno constrói jamais fiquem
vinculados a apenas um contexto e, em decorrência, “avaliar” a aprendizagem
significa valer-se de uma grande diversidade de atividades que possam colocar o
conteúdo que se quer ver apreendido em diferentes contextos particulares.
Não podemos
esquecer que os Campos do Saber são contextualizados nos projetos de trabalho e
refletem atividades significativas. Atividades estas que, registradas e/ou
arquivadas nos portfólios oportunizam visualizar os Campos do Saber que estão
sendo contemplados nos projetos de trabalho ao longo do bimestre.
Algumas diretrizes para a confecção de um portfólio de aprendizagem:
É
no portfólio de aprendizagem que concentram-se as produções das crianças, as
quais apresentam as evidências de sua aprendizagem.
Os portfólios
podem ser organizados em pastas com sacos plásticos, e deles, inicialmente
fariam parte os seguintes documentos: uma folha para identificação da criança,
lista com o nome de todas as crianças da turma, registro de atividades
desenvolvidas durante os projetos, relatórios construídos com o aluno,
anotações dos pensamentos das crianças sobre o que têm aprendido, síntese do
que aprenderam nos projetos, registro de memórias (comentários sobre filmes,
eventos que observam, pessoas que conhecem, experiências pelas quais passam
etc.), fotografias, amostras de trabalhos (trabalhos artísticos, ditados,
amostras de escritos), trabalhos com observações do professor, registro das
idéias, análises e conclusões das crianças etc. Cada professor tem a liberdade
de acrescentar ou retirar documentos quando achar necessário.
Obs.: Os
alunos da Educação Infantil gostam de conversar e contar para o professor o que
vivem e sentem. Essas são ótimas oportunidades para coletar suas percepções. Os
comentários das crianças são inseridos em seu portfólio pelo professor.
Os
Portfólios são construídos ao longo do ano, com fechamentos bimestrais, quando
serão compartilhados com os pais, em reuniões. Ao final do ano cada criança tem o
direito de levar para casa o seu portfólio.
Para
os pais, os portfólios são excelentes instrumentos para que conheçam mais sobre
seu filho e sobre o trabalho que estamos desenvolvendo, mas isso não quer dizer
que escrevemos para mostrar “o quanto fizemos” nem para indicar “o que a
criança sabe ou não sabe”.
Construir
Portfólios é muito mais do que organizar uma pasta com amostras de trabalhos
das crianças. Se todos da comunidade escolar estiverem conscientes da sua
importância, terão em mãos um valioso instrumento de avaliação do processo de
crescimento das crianças, dos professores e da escola como um todo.
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